Oi gente querida!
Tô voltando a escrever depois de uns dias afastada e do que, provavelmente, foi o maior susto, o maior desespero que já passei.
Sexta-feira fui buscar meus filhotinhos na escola. Pendurei as bolsas e segurei as mochilas, e fui atravessar aquela rua dos infernos, com carros parados em fila dupla, nenhuma faixa de pedestres, um monitor lutando contra a loucura do trânsito. Em fração de segundos, minha filhota se adiantou. Gritei. O carro bateu nela num baque que nunca mais vai sair da minha cabeça, e ela caiu desacordada.
Foram os 5 segundos mais horríveis da minha vida. A gente sabe que não pode mexer, erguer, mas tudo que uma mãe quer é colocar o filho no colo. Precisava me conter pra não aconchegar minha pequena no peito. Finalmente ela acordou, foi se mexendo devagarinho, e pude avaliar melhor a dor dela. Valente, brigando com o povo na volta. Só dizia: "Pra que tudo isso? Tô bem! Quero ir pra casa!"
Meu filhote chorava desesperado de ver tudo aquilo. Querido... de partir o coração. Nem podia chegar nele. Algumas pessoas o ajudaram, lhe deram água, tentaram acalmar.
Juntou o povo, chamaram a ambulância ( o bombeiro era uma amigo muito querido da família, o que foi um presente de Deus). Brincaram com meus filhotes no caminho, fizeram balão de luva. Aliás, os médicos e plantonistas deveriam fazer cursos de humanidade com os bombeiros. Todo mundo diz que os médicos endurecem por causa das desgraças que veem, mas os bombeiros socorrem desgraçados o dia inteiro e nem por isso são menos gentis e interessados.
Chegamos ao hospital, minha pequena atordoada, sono excessivo, enjoo, dor, rostinho esfolado, pé fraturado. Médicos de poucas palavras, gente sussurrando "exige esse exame", "exige aquele médico", policial fazendo B.O. dentro da sala de emergência, gente na recepção querendo notícia. Nenhuma assepsia no rostinho dela, que estava todo sujo e machucado. Eu só queria pegar meu bebê e fugir dali, cuidar dela eu mesma.
É horrível ver as mãozinhas se contorcerem de dor, de stress. Eu não sabia que isso acontecia. Achei que ela estivesse tendo uma espécie de convulsão, repuxando os dedos da mão sem conseguir mexê-los. "Fica tranquila, mãe, isso é normal" - Honestamente, tive vontade de puxar de dentro meu repertório de palavrões, que não é lá muito vasto.
Bom, isso aconteceu pelas 17:30. Sete horas e muitas ligações e medos e dores e exames depois, pude finalmente levar meu tesouro pra casa. E ela dormiu com o pezinho na tala e aconchegada em casa. No dia seguinte pudemos ver a extensão da pancada, com os hematomas surgindo pelo corpo e a dor pra soltar um espirro.
Pudemos também ver o quanto ela é amada. Tanta gente querida ligando, vindo aqui, trazendo presentinhos carinhosos. Vizinhos, amiguinhos da escola, parentes. Só podemos ser gratos por todo esse amor!
Agora, passado o desespero, tenho muito a gradecer ao Pai do céu, que esteve ao nosso lado, que cuidou da minha pequena, do coraçãozinho do meu menino, que deu tranquilidade ao meu marido, que me ajudou a ficar calma no meio do furacão. Agradecer por nada pior ter acontecido, e por saber que nada escapa ao controle Dele.
E aprender com isso. Preciso lidar com meu peito, que dói por dentro como se eu precisasse chorar. Ainda não consegui. Preciso lidar com a culpa, que inevitavelmente senta no meu ombro e sopra no meu ouvido a cada momento.
Mas deixa eu ir. Preciso cuidar da minha lindinha. E olhar dentro daqueles olhões azuis me diz que todas as dores da maternidade valem a pena. Minha Lydia é valente, corajosa, determinada. É o presente que coroa toda angústia, preocupação, insônia, esforço.
Beijo, gente... volto quando estiver com a cabeça no lugar de novo. Precisamos de férias!